quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Das tormentas .

Engraçado, Novembro chegou e vai embora tão rápido, exatamente como eu quis que acontecesse. Não vejo mesmo a hora de o ano acabar, de começar um outro, de eu poder recomeçar, ou ao menos pensar que recomeço. Mas, ao mesmo tempo trouxe de volta algumas tormentas, algumas ondas pesadas. Eu não tive tamanha pretensão de achar que elas haviam passado, mas de alguma forma pensei que havia aprendido a lidar com elas, a nadar do mesmo jeito, ainda que fazendo um esforço grande.
Acontece que pelo caminho a gente encontra coisas tão bonitas que não percebemos o esforço, mas uma hora ou outra ele se faz perceber. E isso não significa que as coisas bonitas já não mais sejam vistas, mas que ainda com elas o corpo está pesado, cansado.
É difícil parar e pensar em tudo novamente, calcular cada ato, cada palavra, tudo o que não faz mais sentido. É estranho e incômodo perceber que algumas coisas tenham se perdido de um jeito tão bobo que me fazem pensar: 'então, elas não eram tão grandes, tão fortes, tão inabaláveis assim'. E eu penso ainda em todo o tempo que eu perdi por elas, em todas as outras coisas grandes que eu neguei por pensar que as que eu possuía eram suficientes.
Se houvesse uma borracha capaz de apagar coisas desse tipo, eu as apagaria, ainda que com elas tivesse que apagar as coisas bonitas.

' So tell me when you hear my heart stop, you're the only one that knows !
Tell me when you hear my sobbing, there's a possibility I wouldn't know .
So tell me when my crying's over, you're the reason that I'm crying .
Tell me when you hear me falling, there's a possibility it wouldn't show . '

( Possibility - Lykke Li )


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Se você vir um par de sapatos, um para cima outro pra baixo
Ou um surfista elegante de sociedade
Se você sentir que está ventando demais e não tiver agradável
O vento que estava tão bom
Então lembre-se de mim
Com minha hipocrisia

Um amor como o nosso está fadado a acabar
E eu já não tenho mais fôlego pra soprar a fogueira
Você parece barata tonta, envenenada por Rodox
E teu barato já tá muito descoordenado
E desse jeito não vai dar
Então se você vir um tarado na escada
Lembre-se de mim
Um vira-lata emocionado
Lembre-se de mim
Lembre-se de nós e a nuven alaranjada
Lembre-se de nosso amor
Com as decisões que tomamos juntos
Das nossas músicas malucas
E esse talento de tomar a cena de assalto
Pagamos o preço, por não sermos medíocres
Lembre-se disso quando for falar mal de mim
Lembre-se da nuven e da luz
Alaranjada no lustre do quarto

( Cazuza )

sábado, 31 de outubro de 2009

Da Confiança .

Assim disse o Nário:

Confiança

s.f. Esperança firme em alguém, em alguma coisa: ter confiança no futuro. / Sentimento de segurança, de certeza, tranqüilidade, sossego daquele que confia na probidade de alguém: perder a confiança do chefe. / Segurança: não ter confiança em si. / Crédito: homem de confiança. // Dar confiança, dar importância a alguém, permitir intimidade. // Voto de confiança, no regime parlamentar, aprovação dada à política do governo pela maioria do Parlamento.

-

'Perto de ti dança minha alma desarmada.' Essa frase - já posta aqui antes - é o que melhor define confiança para mim. Acho que é exatamente isso: baixar a guarda, deixar de lado o modo absolutamente racional para que o inconsciente tome seu lugar. Algo raro, ainda mais nos dias de hoje.

Mas, a cada vez que nos reencontramos sinto exatamente isso. Minha alma dançando levemente pelo espaço entre nós, livre de qualquer preceito, julgamento e coerência. Parece que, de alguma forma, eu abandono esse mundo para estar durante algum tempo num universo pararelo que só serve para duas pessoas. As regras são apenas nossas e nada disso é aparente para mais alguém. Os que olham de fora talvez nos vejam bobos que não somos.

Sensação rara de familiaridade, casa, aconchego, segurança, paz. Tudo o que me faz querer sempre estar por perto.

Uma razão para que a saudade esteja sempre presente, ainda que apenas dois dias tenham passado desde a última vez.

domingo, 25 de outubro de 2009

Linger ( The Cranberries )


If you, if you could return, don't let it burn, don't let it fade.

I'm sure I'm not being rude, but it's just your attitude,
It's tearing me apart, It's ruining everything.

I swore, I swore I would be true, and honey, so did you.
So why were you holding her hand ?
Is that the way we stand ?
Were you lying all the time ?
Was it just a game to you ?

But I'm in so deep.
You know I'm such a fool for you.
You got me wrapped around your finger,
Do you have to let it linger ?
Do you have to, do you have to,
Do you have to let it linger ?

Oh, I thought the world of you.
I thought nothing could go wrong,
But I was wrong.
I was wrong.
If you, if you could get by, trying not to lie,
Things wouldn't be so confused and I wouldn't feel so used,
But you always really knew,
I just wanna be with you.

But I'm in so deep.
You know I'm such a fool for you.
You got me wrapped around your finger,
Do you have to let it linger ?
Do you have to, do you have to,
Do you have to let it linger ?

And I'm in so deep.
You know I'm such a fool for you.
You got me wrapped around your finger,
Do you have to let it linger ?
Do you have to, do you have to,
Do you have to let it linger ?

You know I'm such a fool for you.
You got me wrapped around your finger,
Do you have to let it linger ?
Do you have to, do you have to,
Do you have to let it linger ?
-
às vezes são tantas as coisas que precisam ser ditas que eu acabo escolhendo ficar em silêncio.
a vida continua louca, sem sentido, uma montanha russa do terror: cheia de fracassos, medos, sentimentos mal resolvidos ...
desde o início não pensei que fosse ser tão difícil, relacionei o tempo à força e estava errada. tempos atrás eu era mais forte.
enfim, no meu caso é o tempo passar. deixa estar.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Just for you .

Foi bom você ter vindo, e ter me levado para passear. Já não tenho muito tempo para simplesmente passear, e você chegar assim de tão longe era uma ótima desculpa. Sem contar que passeios de bicicleta me fazem um bem danado, você sabe.

Você disse logo que me viu que eu estava diferente, que tinha alguma coisa errada. Algumas pessoas realmente conseguem olhar nos nossos olhos e enxergar para muito além das cores. Ou talvez, consigam mesmo enxergar as cores de verdade. Você fez isso de um jeito tão doce que me deixou mais leve. Por mais que eu não pudesse e não quisesse te contar tudo o que anda acontecendo você soube dizer tudo o que eu venho dizendo a mim nesses últimos dias.

Você respeita meu silêncio como poucos conseguem respeitar. Nem todo mundo sabe que o silêncio não é sempre falta do que dizer, e sim excesso de palavras ainda não ditas. Nó na garganta.

E eu só queria te contar agora que tudo melhorou desde que você passou por aqui, que esses dias foram mais calmos, que eu consegui sorrir mais e me apaixonar pelas coisas de novo. De um jeito mais manso, em doses pequenas.

Cai uma chuva por aqui que não se cansa, ainda ontem ficamos horas no trânsito. Tempo disponível para (não) pensar nas coisas, para ouvir músicas, para trocar palavras.
Sei que por aí a chuva ainda não se cansou também.

Gosto assim: chuva, frio, filme, café.

Poderia ter ligado pra te dizer essas coisas, mas sei que mais tarde você liga. E gosto de palavras, cartas, coisas assim, escritas, você sabe.

Meu afeto, muitos beijos.

domingo, 27 de setembro de 2009

Pra dizer adeus

' Às vezes fico assim pensando
Essa distância é tão ruim
Por que você não vem pra mim ?
Eu já fiquei tão mal sozinho
Eu já tentei, eu quis chamar
Não dá pra imaginar quando
É cedo ou tarde demais
Pra dizer adeus, pra dizer jamais '



... ainda falta arrumar as malas. e tem sido assim há tempos. e ele não faz idéia, não sabe o que me falta, o que me sobra. não sabe que nesses dias, nessas horas penso que talvez seja melhor sossegar as malas, sossegar as mudanças. não sabe do medo.

... ainda restam alguns comprimidos que fazem a dor de cabeça ser menos cruel. faltam comprimidos para o frio na barriga, o aperto no coração, o nó na garganta.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Para uma avenca partindo .

Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme dessas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque as vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio? Falava do mais fundo, desse que existe em você, em mim, em todos esses outros com suas malas, suas bolsas, suas maçãs, não, não sei porque todo mundo compra maçãs antes de viajar, nunca tinha pensado nisso, por favor, não me interrompa, realmente não sei, existem coisas que a gente ainda não pensou, que a gente talvez nunca pense, eu, por exemplo, nunca pensei que houvesse alguma coisa a dizer além de tudo o que já foi dito, ou melhor pensei sim, não, pensar propriamente dito não, mas eu sabia, é verdade que eu sabia, que havia uma outra coisa atrás e além das nossas mãos dadas, dos nossos corpos nus, eu dentro de você, e mesmo atrás dos silêncios, aqueles silêncios saciados, quando a gente descobria alguma coisa pequena para observar, um fio de luz coado pela janela, um latido de cão no meio da noite, você sabe que eu não falaria dessas coisas se não tivesse a certeza de que você sentia o mesmo que eu a respeito dos fios de luz, dos latidos de cães, é, eu não falaria, uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viver as superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouca que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si própria, mas sabe, você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também cantava desvairadamente até ficar rouco, o que eu quero dizer é que nós dois cantamos desvairadamente até agora sem nos darmos contas, é por isso que estou tão rouco assim, não, não é dessa coisa de garganta que falo, é de uma outra de dentro, entende? Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço, claro, claro que eu compro uma revista pra você, eu sei, é bom ler durante a viagem, embora eu prefira ficar olhando pela janela e pensando coisas, estas mesmas coisas que estou tentando dizer a você sem conseguir, por favor, me ajuda, senão vai ser muito tarde, daqui a pouco não vai mais ser possível, e se eu não disser tudo não poderei nem dizer e nem fazer mais nada, é preciso que a gente tente de todas as maneiras, é o que estou fazendo, sim, esta é minha última tentativa, olha, é bom você pegar sua passagem, porque você sempre perde tudo nessa sua bolsa, não sei como é que você consegue, é bom você ficar com ela na mão para evitar qualquer atraso, sim, é bom evitar os atrasos, mas agora escuta: eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor, é, a cor, o tempo é só uma questão de cor não é? Por isso não importa, eu queria era te dizer dessas vezes em que eu te deixava e depois saía sozinho, pensando também nas coisas que eu não ia te dizer, porque existem coisas terríveis, eu me perguntava se você era capaz de ouvir, sim, era preciso estar disponível para ouvi-las, disponível em relação a quê? Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, disponível só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender, melhor, claro que eu dou um cigarro pra você, não, ainda não, faltam uns cinco minutos, eu sei que não devia fumar tanto, é eu sei que os meus dentes estão ficando escuros, e essa tosse intolerável, você acha mesmo a minha tosse intolerável? Eu estava dizendo, o que é mesmo que eu estava dizendo? Ah: sabe, entre duas pessoas essas coisas sempre devem ser ditas, o fato de você achar minha tosse intolerável, por exemplo, eu poderia me aprofundar nisso e concluir que você não gosta de mim o suficiente, porque se você gostasse, gostaria também da minha tosse, dos meus dentes escuros, mas não aprofundando não concluo nada, fico só querendo te dizer de como eu te esperava quando a gente marcava qualquer coisa, de como eu olhava o relógio e andava de lá pra cá sem pensar definidamente e nada, mas não, não é isso, eu ainda queria chegar mais perto daquilo que está lá no centro e que um dia destes eu descobri existindo, porque eu nem supunha que existisse, acho que foi o fato de você partir que me fez descobrir tantas coisas, espera um pouco, eu vou te dizer de todas as coisas, é por isso que estou falando, fecha a revista, por favor, olha, se você não prestar muita atenção você não vai conseguir entender nada, sei, sei, eu também gosto muito do Peter Fonda, mas isso agora não tem nenhuma importância, é fundamental que você escute todas as palavras, todas, e não fique tentando descobrir sentidos ocultos por trás do que estou dizendo, sim, eu reconheço que muitas vezes falei por metáforas, e que é chatíssimo falar por metáforas, pelo menos para quem ouve, e depois, você sabe, eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem, está bem, eu espero aqui do lado da janela, é melhor mesmo você subir, continuamos conversando enquanto o ônibus não sai, espera, as maçãs ficam comigo, é muito importante, vou dizer tudo numa só frase, você vai ......... ............ ............. ............ .......... ........... ............. ............ ............ ............ ......... ........... ............ ............ sim, eu sei, eu vou escrever, não eu não vou escrever, mas é bom você botar um casaco, está esfriando tanto, depois, na estrada, olha, antes do ônibus partir eu quero te dizer uma porção de coisas, será que vai dar tempo? Escuta, não fecha a janela, está tudo definido aqui dentro, é só uma coisa, espera um pouco mais, depois você arruma as malas e as botas, fica tranqüila, esse velho não vai incomodar você, olha, eu ainda não disse tudo, e a culpa é única e exclusivamente sua, por que você fica sempre me interrompendo e me fazendo suspeitar que você não passa mesmo duma simples avenca? Eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisas que eu tinha pra te dizer, olha, antes de você ir embora eu quero te dizer quê.

( Caio Fernando Abreu )

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Amor e deserto .


Balada de Agosto

Lá fora a chuva desaba e aqui no meu rosto
Cinzas de agosto e na mesa o vinho derramado
Tanto orgulho que não meço
O remorso das palavras que não digo
Mesmo na luz não há quem possa se esconder do escuro
Duro caminho o vento a voz da tempestade
No filme ou na novela
É o disfarce que revela o bandido
Meu coração vive cheio de amor e deserto
Perto de ti dança a minha alma desarmada
Nada peço ao sol que brilha
Se o mar é uma armadilha nos teus olhos

( Fagner e Zeca Baleiro )

... Agosto já foi. Eu tinha colocado uma luz verde, que brilhava muito fraca, nesses 31 dias que passaram. E passaram. A luz verde também passou, parou enfim de brilhar. O que ficou é um silêncio frio, dentro e fora, que devora.

domingo, 30 de agosto de 2009

Um sonho .

' A gente se apertou um contra o outro. A gente queria ficar apertado assim porque nos completávamos desse jeito, o corpo de um sendo a metade perdida do corpo do outro. '

( Caio Fernando Abreu )

... poderia dizer muitas coisas, mas nunca que o fim não foi belo. Palavras erradas voavam ligeiras, embora os olhos verdes esperassem minha resposta correta. Silêncio. O abraço firme e macio me salvava do mundo, um beijo quente molhava. A mão que me segurou no escuro me pedia pra ficar. Uma frase. O que eu não ouvi.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Fluidez .


' A água flui, vai para a frente. Isto também vai passar. Mas não compreendo. Então um lado meu pensa: é sina, é fado, é destino, é maldição. Outro lado pensa: não, é mera neurose, de alguma forma sutil devo construir elaboradamente essa rejeição. Crio a situação, e ouço um não. Desta vez, eu tinha tanta certeza. E penso: os deuses me traíram, os búzios me atraiçoaram, as cartas me mentiram. '

( Caio Fernando Abreu )

domingo, 23 de agosto de 2009

Que seja doce .

‘(...) Adeus você
Não venha mais me negacear
Teu choro não me faz desistir
Teu riso não me faz reclinar
Acalma essa tormenta
E se agüenta, que eu vou pro meu lugar (...)’

( Marcelo Camelo )

A Despedida.

Não sentia os minutos que corriam velozes, mas lentas gotas de chuva fria caíam sobre seus cabelos, seu rosto, seus ombros. Uma a uma. Deitava então a noite.

Ao seu lado alguém que agora era um desconhecido. Perdido em paixões, palavras, sorrisos, amores, braços, abraços. Desconhecidos.

O silêncio gritava sonhos, desejos, medos em seu ouvido. Perguntas, respostas. Riu-se. Na pressa de entender, de chegar ao ponto certo não havia olhado ao redor. Margaridas, bicicletas, arco-íris, laços, outros.

Uma lágrima quente, tímida, nadou de encontro à chuva. Não há tristeza em seu olhar. Suas asas agora batem coloridamente.

- Seja feliz, seja muito feliz. Eu vou ser. Muito.

Entregou-lhe o último beijo, o último sorriso. Fortes, corretos, simples. E com os pés molhando o mar, estrelas escorrendo pelo corpo voou para além daquilo que, ao lado dele, não conseguia enxergar.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Mas ...




Lambeu as lágrimas que escorriam,
manchando a língua de tristezas.
Quando o vazio é muito grande,
as lágrimas são transparentes.

( Rita Apoena )


... e foi, passou. Não mais palavras, não mais amor. O inevitável acontecia: cada um de nós para um lado, correndo para o futuro, opostos. ‘ Talvez a gente se encontre no infinito ’ lhe disse em silêncio.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Considerações .

Sobre o abraço

Abraçar é encostar um coração no outro.

( Rita Apoena )

... naquele último abraço nosso carinho transbordava, qualquer coisa inexplicável fez o relógio do mundo desacelerar. Não era preciso pensar ou respirar, apenas sentir. E, de alguma maneira, eu sabia que se - por ventura - o Universo desabace nós estaríamos a salvo.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Reticências .




' Saudade é solidão acompanhada, é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já ...'
( Pablo Neruda )

Tanta saudade. De tanta coisa. De tantas pessoas. Saudade de mim ...

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Cúmplice .

Carta Anônima

Para se ler ao som de Melodia Sentimental, de Villa-Lobos cantada por Olívia Byington

Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assentada aos poucos e com mais força enquanto a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos. Tão transparentes que até parecem de vidro, vidro tão fino que, quando penso mais forte, parece que vai ficar assim clack! e quebrar em cacos, o pensamento que penso de você. Se não dormisse cedo nem estivesse quase sempre cansado, acho que esses pensamentos quase doeriam e fariam clack! de madrugada e eu me veria catando cacos de vidro entre os lençóis. Brilham, na palma da minha mão. Num deles, tem uma borboleta de asa rasgada. Noutro, um barco confundido com a linha do horizonte, onde também tem uma ilha. Não, não: acho que a ilha mora num caquinho só dela. Noutro, um punhal de jade. Coisas assim, algumas ferem, mesmo essas que são bonitas. Parecem filme, livro, quadro. Não doem porque não ameaçam. Nada que eu penso de você ameaça. Durmo cedo, nunca quebra.

Daí penso coisas bobas quando, sentado na janela do ônibus, depois de trabalhar o dia inteiro, encosto a cabeça na vidraça, deixo a paisagem correr, e penso demais em você. Quando não encontro lugar para sentar, o que é mais freqüente, e me deixava irritado, descobri um jeito engraçado de, mesmo assim, continuar pensando em você. Me seguro naquela barra de ferro, olho através das janelas que, nessa posição, só deixam ver metade do corpo das pessoas pelas calçadas, e procuro nos pés daquelas aqueles que poderiam ser os seus. (A teus pés, lembro.). E fico tão embalado que chego a me curvar, certo que são mesmo os seus pés parados em alguma parada, alguma esquina. Nunca vejo você - seria, seriam?

Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você. Assim: de repente ao dobrar uma esquina dou de cara com você que me prega um susto de mentirinha como aqueles que as crianças pregam umas nas outras. Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar um sorvete, suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de frutas em qualquer lugar. Assim: estou pensando em você e o telefone toca e corta o meu pensamento e do outro lado do fio você me diz: estou pensando tanto em você. Digo eu também, mas não sei o que falamos em seguida porque ficamos meio encabulados, a gente tem muito pudor de parecer ridículos melosos piegas bregas românticos pueris banais. Mas no que eu penso, penso também que somos meio tudo isso, não tem jeito, é tudo que vamos dizendo, quando falamos no meu pensamento, é frágil como a voz de Olívia Byington cantando Villa-Lobos, mais perto de Mozart que de Wagner, mais Chagal que Van Gogh, mais Jarmush que Win Wenders, mais Cecília Meireles que Nelson Rodrigues.

Tenho trabalhado tanto, por isso mesmo talvez ando pensando assim em você. Brotam espaços azuis quando penso. No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um pouco tolo, meio melodramático, e penso então tule nuvem castelo seda perfume brisa turquesa vime. E deito a cabeça no seu colo ou você deita a cabeça no meu, tanto faz, e ficamos tanto tempo assim que a terra treme e vulcões explodem e pestes se alastram e nós nem percebemos, no umbigo do universo. Você toca minha mão, eu toco na sua.

Demora tanto que só depois de passarem três mil dias consigo olhar bem dentro dos seus olhos e é então feito mergulhar numas águas verdes tão cristalinas que têm algas na superfície ressaltadas contra a areia branca do fundo. Aqualouco, encontro pérolas. Sei que é meio idiota, mas gosto de pensar desse jeito, e se estou em pé no ônibus solto um pouco as mãos daquela barra de ferro para meu corpo balançar como se estivesse a bordo de um navio ou de você. Fecho os olhos, faz tanto bem, você não sabe. Suspiro tanto quando penso em você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente. Caminho mais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente, mas penso tanto em você que na hora de dormir vezemquando até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito repito em voz baixa te amo tanto dorme com os anjos. Mas depois sou eu quem dorme e sonha, sonho com os anjos. Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundo do mar. Clack! como se fosse verdade, um beijo.

Caio Fernando Abreu

O Estado de S. Paulo, 16/03/88

Pequenas Epifanias

- Caio Fernando Abreu é cúmplice. Leio, leio, leio e me vejo.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Divagando .

‘ E talvez não seja assim tão fácil
Talvez assim seja melhor
Talvez cada um reme pra um lado
Mas os mares que te cercam
Talvez sejam iguais aos meus
E a gente segue em frente ’
( Segue em frente, Junior Lima )

Depois de tanto tempo consegui perceber que estávamos juntos, eu e você no mesmo oceano de incertezas. Ainda é preciso te provar tanta coisa ...

quinta-feira, 30 de julho de 2009

' Eu vi o meu passado passar por mim '


Ontem tirei da estante um diário que fiz de 2005 até o início de 2008, mais ou menos. Tem muitas coisas escritas, muitas coisas que eu não lembrava direito, que achava que tinham sido de um jeito e foram de outro. Ri muito lendo tudo o que eu escrevi quando tinha uns 14 anos. Lendo ficou parecendo que eu vivia o presente e só, sem ficar me apegando ao passado ou idealizando o futuro. Isso era fácil quando não precisava me preocupar com quase nada... Mas, o mais importante de tudo foi olhar pra trás, enxergar alguns erros que cometi e deixar tudo isso bem fresco na memória pra que eu nunca mais pense em fazer de novo.


Agora, pra você que acha que eu um dia posso te esquecer, lê bem o que eu escrevi no início do ano passado quando a gente ficou sem se falar durante muito tempo (por minha culpa, tá bem?):


‘[...] E como eu poderia tirar da minha vida assim, sem explicação, alguém que me ensinou uma porção de coisas? Que me viu rir e chorar, que me aturou nos meus dias mais chatos, que me deu o melhor presente da minha vida, que me falou as coisas mais legais e outras que, apesar de não tão legais, eram sinceras? Alguém que desculpou todas as minhas palavras e fatos errados? E que eu amo o suficiente para desculpar também. [...]’


E mais, vou te dizer o primeiro dia em que você apareceu nesse diário adolescente: 08 de Abril de 2005.


PS: Você acertou bem quando disse que eu ia te esquecer. Eu não preciso me lembrar de respirar, você precisa?

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Saiba .

" Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse ao meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu. "
( Caio Fernando Abreu )

Eu queria mesmo tudo isso, e eu tentei fazer o melhor, tentei seguir as pistas que você me dava. Pensei que o melhor era te deixar livre, não te prender a mim, não te cobrar uma presença, um afeto, uma amizade ou qualquer outra coisa. Quis aceitar tudo o que você me dava e te dar tudo o que eu tinha.

Mas agora já não sei o que fazer, tenho pensado que você prefere as cobranças, as correntes.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Do Fim .

' Eu não vou louvar valores,
Dos nossos amores as dores eu não vou contar,
O peito trajado de dores
A boca tragando rancores
E a dúvida nossa era onde chegar. '

( Eu Não Sou Chico Mas Quero Tentar, Fernando Anitelli, O Teatro Mágico )