terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Tempo de fazer planos


'(...) Que te dizer? Que te amo, que te esperarei um dia numa rodoviária, num aeroporto, que te acredito, que consegues mexer dentro-dentro de mim? É tão pouco. Não te preocupa. O que acontece é sempre natural — se a gente tiver que se encontrar, aqui ou na China, a gente se encontra. Penso em você principalmente como a minha possibilidade de paz — a única que pintou até agora, “nesta minha vida de retinas fatigadas”. E te espero. E te curto todos os dias. E te gosto. Muito. Tô morando, trabalhando, estudando e amando. Esses são os quatro foles da minha vida, no momento, e sobre cada um deles eu teria milhares de páginas a preencher. Sei lá, menina, tá tudo tão legal — e um legal tão batalhado, um legal merecido, de costas e pernas doendo, mas coração tranqüilo.
(...) A gente sangra e geme — mas sai mais vivo, “com a vida dividida pra lá e pra cá”. O que não queria é que você futuramente talvez me culpasse, entende? Mas acho que é besteira ficar tentando desvendar o futuro — apesar do tarot e do I Ching. Ao mesmo tempo gostaria que tomássemos alguma providência sobre a sua vinda. Mande me dizer o que você pensa de tudo isso mas pense bem, é uma coisa séria — muito mais do que a gente pensa quando está aí. (...) Quero sonhar com você, com o sol e o cometa que vem no fim do ano — eu tô sabendo.' 


 (Trechos da carta de Caio Fernando Abreu para Vera Antoun)
http://caiofabreu.blogspot.com/2010/09/vera-antoun_3384.html


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Perdi as contas de quantas vezes abri a caixa de "nova postagem" e comecei a escrever uma, duas ou três frases; apaguei e deixei pra lá. Não escrevo mais mesmo tanto quanto antes, nem aqui nem em outro lugar qualquer. Mas têm dias em que é impossível fugir, deixar pra depois. Até porque Caio Fernando Abreu sempre ajuda, decifra todos os sentimentos ao pé da letra.
E, bem, tenho estado assim: de coração tranqüilo. Vez ou outra ele dispara e perde o compasso, a barriga esfria e as borboletas fazem a festa.  
É tempo de fazer planos, de desejar todos os dias se mudar pra outro Estado ontem; sentir saudade do que ainda não chegou e do que ainda não passou; de quem ainda não veio e de quem veio mas ainda não foi; de desejar que chova e faça frio; de ótimas leituras; de reencontros que podem durar pra sempre ... E sobre cada uma dessas coisas eu, certamente, ainda terei muito o que escrever - e sentir.

'Smile below each nose and above each chin.'